quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

José Macau

José Macau nasceu no Porto e morreu em Lisboa. Na sua certidão de nascimento encontra-se indicado que nasceu na Rua Cidade de Lisboa, considerada por lapso na freguesia de Santo Ildefonso, quando, na realidade, apoiado na toponímia e nos cálculos comparados das distâncias da anteriormente referida rua com o rio Douro, esta se situa na freguesia de Paranhos. Correcta está a informação relativa ao momento em que nasceu: às duas horas e treze minutos da manhã do dia 13 de Fevereiro de 1926. Incompleta está a certidão quando ignora deixar espaço para a data da sua morte: 2 de Novembro de 2001, dia de finados, segundo a crença católica.


Zé Macau, como era tratado pelos amigos, foi um homem pouco dado ao catolicismo apesar de variadas vezes ter pedido a alguém superior entrar no século XXI, “o século do futuro!”, como não se cansava de proclamar, de olhos, boca e braços bem abertos. Não tendo tido oportunidade de o viver muito em vida, viveu-o o suficiente em imaginação, nomeadamente através de conjecturas, previsões e demais suposições abstracto-filologo-transpirantes das vidas daqueles que todos os dias encontravam a morte. E não precisava Zé Macau conhecer a alma do perecido para sobre ele enredar.


O método de Zé Macau era simples e infalível: concentrando-se nas páginas de obituário de um jornal de grande tiragem, tecia arquejos e formas de locomoção, tirava notas sobre familiares e amigos, adiantava morada e última refeição do recém-morto. Era um fartote. Um sem número de amestradas probabilidades convertidas em certezas, apoiadas em explicações e provas irrefutáveis. E assim foi até ao dia 2 de Novembro de 2001, quando caído em febre na cama, depois de suores, delírios e espasmos, ele próprio morreu na única casa para onde comprou um candeeiro. Quem assistiu ao termo de existência de Zé Macau, assevera que a sua respiração terminou em dó menor.

2 comentários:

  1. "ele próprio morreu na única casa para onde comprou um candeeiro"...

    Temos o Rei de volta! :)

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  2. ahah, estava indeciso entre um candeeiro e um esquentador... :x

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