sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Vitória Sanfim

Nascida por volta dos mil novecentos e cetentas e noves, filha de mãe muda e de pai falecido enquanto ainda estava no ventre materno, viveu num vale transmontano sem nome ou igreja ou pessoa a  vida toda.

Um dia morreu. A mãe carregou-a até à cidade numa burra.

E aí, finalmente alguém pôde contar a sua história.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

César

Não me recordo do dia em que nasci
e agora, prestes a morrer,
estou enclausurado num tique-taque biológico que não perdoa, magoa,
os minutos passam e cada vez mais próximas estão as ovelhas da família: avó; avô; primo, estou de volta, venham-me receber à entrada para não ficar preso no torniquete!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Número oito

O número oito foi a primeira materialização bem sucedida de Salazar Coentro. Após vinte anos de extensas pesquisas, Salazar Coentro, quarenta anos, filho de Cristino Coentro e Cristina Coentro, conseguiu finalmente dar à luz o número oito. Foi no dia doze do mês sete do ano de dois mil, depois de Cristo. Apresentado à nação com um discurso que passou em directo em todos os meios de comunicação social que transmitem directos, o número oito foi o resultado inesperado para um problema mais que esperado, depois de todos os limites decorrentes do número sete, admitido à escala numérica internacional um quinto de século antes. Por conseguinte, o problema de que Salazar Coentro partiu colocava-se em encontrar a forma do número posterior ao sete, vulgo manifestação física, dado que o conteúdo já se encontrava definido há muito. Aliás, considerando-se a existência do infinito, deve-se ter em consideração que depois do agora materializado oito, faltam todos os seguintes números...

Apaixonado por estatística, numerologia e caricas, Salazar Coentro desde cedo se dedicou à materialização de números, tendo já no currículo um esboço para o número seis, aquando dos rabiscos e demais devaneios que produzira na escola primária. Considerado um génio, Salazar Coentro enquanto criança demonstrou um desenvolvimento precoce, dotado de pensamento lateral e de uma alma que à noite se revelava sonâmbula. Aliás, variadas foram as vezes que Salazar Coentro acordava por a sua alma estar a fazer contas de cabeça. Agora que a Fundação para a Escala Numérica Mundial aceitava o seu número oito, Salazar Coentro não cessava em entrevistas e reportagens, não sendo raros os jornalistas que o acompanhavam diariamente, desde que saía até que regressava a casa. Alguns chegaram até a montar tenda bem à frente do seu lote. Se de início todo este mediatismo foi ao encontro de um certo orgulho e brio, com o passar do tempo estes mesmos sentimentos deram lugar à obstinação e ao incómodo. Com naturalidade, Salazar Coentro passou a enfrentar jornalistas, correndo-os à pedrada e esmigalhando-os com insultos, fechando-se em copas na divulgação e explicação do seu raciocínio, do seu novo trabalho, do que comia, de como dormia, das previsões para a forma do número nove. Subitamente, o próprio trabalho passou a estar afectado pois Salazar Coentro passara a ter dificuldades de concentração. Irritado, passou a dirigir um ódio contra as pessoas em geral e contra o número oito em particular. Afinal de contas, tinha sido este a causa de todo o mal, cogitava. Tal não foi de estranhar que no dia vinte do mês oito do ano de dois mil, depois de Cristo, Salazar Coentro tenha tomado uma decisão: queimar todos os papéis em que desenvolvera o raciocínio para a forma do número oito. E assim foi, a forma do número oito, que durante vinte anos ocupara o pensamento diário de Salazar Coentro, acabara de ser consumida, engolida e devorada por um fogo que, de tão quente que estava, o transformou em cinza em apenas oito minutos. Que coincidência esta... Uma cópia do raciocínio que levou à forma do número oito encontra-se actualmente na sede da Fundação para a Escala Numérica Mundial, porém os técnicos precisam ainda de compreender todo o raciocínio para chegar ao resultado final, cujo exemplar único fora consumido pelo fogo. O número oito transformara-se num hiato de morte, num lusco-fusco de vida. Salazar Coentro acabou por ser preso, acusado de crimes contra a humanidade e com pena de prisão perpétua, como desfecho lógico do impedimento de beneficiar da legítima defesa de advogado durante o julgamento, depois de se recusar a recuperar a forma para o número oito. Habitando a cela 5H do estabelecimento prisional de Lisboa, Salazar Coentro é confrontado diariamente por uma série de pressões para reproduzir a forma do número oito. Dada a sua constante recusa, à sua cela foi retirada a retrete e o colchão, tendo Salazar Coentro de dormir em contacto directo com o frio da pedra. Dotado de uma pequena janela, com duas grades de quatro centímetros de diâmetro e separadas por três centímetros, a cela tem como única vista o aterro da prisão. Resta acrescentar que os dias de Salazar Coentro são passados a ler, escrever e fazer cócegas à sua alma. Por vezes descobrem-se rabiscos que aparentam um novo número, porém, até hoje, Salazar Coentro sempre se recusou na concretização do mesmo. Com a morte do número oito, morreu também um pouco da alma de Salazar Coentro, agora entregue a uma distorção da realidade sem igual.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Fernando Lagarto descobre que vai morrer

A Fernando Tita Ferreira, chamavam-lhe Fernando Lagarto na escola. Isso porque tinha a derme da mão esquerda a escamar, como se da pele de um réptil se tratasse. A maleita, conhecida por psoríase, alastrou-se do joelho direito para o interior da coxa oposta; daí seguiu para os três primeiros dedos do pé que estava mais à mão, fintou toda a zona da anca e acabou por alojar-se na mão esquerda. Nunca nenhum médico conseguiu explicar o porquê deste súbito problema, só sabem dizer que desapareceu magicamente quando o jovem completou oito anos.

Foi mais ou menos nessa altura que Fernando Tita Ferreira descobriu a obra de Pessoa, ao perceber que morava numa cidade chamada Lisboa e que afinal esta até estava bastante longe de Rejkiavik. Foi uma verdadeira surpresa. Durante algum tempo, Fernando fazia questão de ir para as aulas com um bigode semelhante ao do poeta, pintado com marcador. Os bofetões resultantes de tamanha extravagância fizeram voltar a psoríase, mas desta feita a doença apenas atingiu as amígdalas. Todos ficaram aliviados por não estarem à vista.

Fernando Tita Ferreira cresceu a amar a alma lisboeta, a forma como inspirava os artistas, o quão diferente e incrivelmente igual conseguia ser da Hungria e de alguns países árabes. "Só uma cidade assim podia ter gerado o génio pessoano", pensou um dia. O mesmo dia em que, ao descer a Rua Garrett, descobriu que não lhe restavam muitos anos de vida. Não, a psoríase não era fatal. Apenas sabia que os seus dias estavam a chegar ao fim, a empurrá-lo para o chão com cada vez mais força. A sua própria vida queria dar de si. Parecia-lhe lógico que assim fosse.

Nessa mesma noite, Fernando Tita Ferreira chegou a casa e rejeitou o caldo de míscaros que a mãe tinha cozinhado na semana anterior. Sentou-se à secretária do seu quarto, com vista para a luz amarelada da rua, suspirou três vezes e terá escrito o seguinte texto:


Sulcos profundos
por Fernando Tita Ferreira, 1979



As pegadas na calçada pregaram sulcos profundos.


Buracos que persistem
como poços em silêncio.

Pingam,

pingam,

pingam,

pingam sem paz
mas duram para sempre.

Para sempre.


Cheio do gotejar,
não te deixa deixar o Chiado,
enfim a morrer.

Mas nunca morres…


Estás comigo, do meu lado.
Vestes a roupa que eu visto.
Fazes tudo o que eu faço.

Enquanto os sulcos da calçada,
(de onde nunca brotam flores)
na paisagem branca ou branca suja
imagino a tua imagem
como alguém que não descansa
e não pára de agitar a mão.


Deixaste poços no Chiado
que gotejam sem parar.

Eusébio Pintarolista

Morreu Eusébio Pintarolista. Homem bom, homem mau, bipolar, com uma mão atrofiada devido a um parto negligente.

Nascido nas Aranhas, Penamacor, em 1952, jogou à bola no Duas Quintas até agredir um árbitro de quinta categoria que o acusou de ter metido mão  na bola em cima da linha.

Morreu uma promessa do futebol de rua e de muito mais. Empreendedor, criou a primeira empresa de dobragens para brasileiro em Mora, Alentejo, terra dos melhores cachorros em papo-seco de Portugal e Galiza.

Eusébio trazia grande amor no peito pela dobragem. Apesar de falhar a concretização de projectos importantes como As Aventuras de Nils Holgerssons ou Donald no País da Matemágica, nunca se deixou dobrar às evidências: ele não levar o menor jeito para isso.

Na sua terra natal, Paz, perto de Mafra, conta-se que deixou todo o dinheiro para o autocarro da Escola Primária. Viajante e exímio condutor de Toyotas Hiace ao longo da tapada, levava os alunos de porta em porta, descarregando coxos com o seu colo. Empurrando os mais tímidos com uma palmada inocente nos glúteos. Beijando delicadamente as meninas no cocuruto.

Ele, que os levava sempre em cantoria, ao som da Rádio Ribamar , aproveitou para deixar estas palavras inspiradas à mulher e às pessoas da Dipol – loja de tudo e mais alguma coisa, no centro da Amadora, antes de se render à aurícula assassina: “Vieram levar-me para onde todas as coisas vão, todas as coisas vão, como dizia Sufjan Stevens na rádio que agora ouço à noite antes de meter o creme Nivea e a ceroula.”

 

Em honra de Eusébio Pintarolista, deixamos a última frase do ultimo trabalho de dobragem que fez. Um documentário habilmente traduzido como “A gente fala AIDS porque é como os inglês fala”.

“AIDS quem diga que tudo isto não é sacanagem. A vida é sacanagem”. 

Ernesto Tinoco

O Santíssima Trindade tem o prazer de reproduzir uma carta de suicídio enviada por Rita Bastos Tinoco, filha do "triste-coitado-que-se-suicidou".


“Querida Célia,

Despeço-me deste mundo depois de jantar o maravilhoso quiche de legumes que cozinhaste antes de sair. Estava tão bom, conseguiste evidenciar o sabor da cebola e do alhinho como eu tanto gosto, obrigado! Afianço-te, custar-me-ia muito mais a partir se o fizesse com o sabor de uma batata frita ou até de uma ervilha. Não é que não goste de ervilhas, mas o sabor da ervilha perde-se com facilidade, parece daquelas pastilhas elásticas baratas e que custam mascar. Como costuma dizer o teu pai, a quem desde já envio um forte abraço e peço desculpa por não me ter despedido directamente dele, “ervilha é gravilha, perde-se no vento e não brilha!”... Relativamente à batata frita, não tenho muito a apontar, sabe sempre bem, mas não queria partir com excesso de gordura. Aliás, a partir do momento em que decidi suicidar-me com os tiros de duas armas diferentes (por uma questão de logística corporal), uma apontada ao lobo frontal do cérebro e outra apontada aos intestinos, tentei garantir que o meu corpo estava livre de qualquer tipo de toxinas. De facto, não sei se reparaste, mas ultimamente bebia bastante água, algum chá e nenhuma bebida alcoólica ou com gás. Para além disso, controlei as minhas fezes e restante matéria fecal, organizando e disciplinando o meu corpo para urinar e defecar todos os dias à mesma hora, a mesma quantidade. Isto explica o cronómetro e a balança que ultimamente levava para a casa-de-banho. O propósito foi lógico: quando a bala me atingisse e o meu corpo se espalhasse, evitar que todo o tipo destas substâncias se propagassem pela sala, a fim de não destruir os sofás e suporte de pés, a mesinha do candeeiro e revistas, as estantes com os nossos, agora teus, livros, a televisão com ecrã plasma, o leitor de dvds, a aparelhagem, as colunas da aparelhagem e do dvd, a carpete e o mini-bar. Não estarei cá para ver o resultado, porém espero sinceramente não estragar nada... desde já te peço para guardares a colecção de migalhas de bolacha que fui juntando na terceira gaveta da minha escrivaninha. Bem, resta-me agradecer-te a paciência e pedir-te desculpa por não ter lavado a loiça da minha última refeição, beijinho eterno, Ernesto Tinoco

p.s: O meu último espirro vai a leilão!!!”


Ernesto Tinoco nasceu em Oeiras a 29 de Fevereiro de 1960. A partir dos nove anos apercebeu-se que “era diferente de todos”, conforme recorda um amigo de infância a quem Ernesto ficou a dever 25 escudos, porque só celebrava o aniversário de quatro em quatro anos. Esta situação criou-lhe uma dissonância que nenhum calendário ou explicação matemática conseguiram dissipar. Deprimido desde então, iniciou um périplo pelas estradas regionais que separavam Oeiras de Lisboa. As suas caminhadas afastaram-no da família, dos amigos, da escola e da plena vivência da juventude, aproximando-o, no entanto, com sucesso de Lisboa. Aos quinze anos cometeu a primeira tentativa de suicídio, lançando-se da janela de casa dos tios, em Carcavelos. Entretanto, com vinte e um anos foi “encarcerado involuntariamente”, segundo propalava, na ala psiquiátrica do Hospital São Francisco Xavier, depois de repetir ao longo do mesmo dia por entre sussurros, sorrisos e urros a frase “ajudem-me a afundar o porta-aviões que tenho no pulmão direito”. Porém, o percurso de Ernesto não foi marcado só por baixos. O seu momento alto ocorreu no dia 29 de Fevereiro de 1988 quando, com vinte e oito anos, “ou seriam sete?” questionou na altura, casou com Célia Bastos. Não registando quaisquer episódios ou sinais de demência, para além de nova tentativa frustrada de suicídio através da inalação de espinhas de carapau, Ernesto passou os anos seguintes na sua vivenda na Rua da Estação, em Oeiras. Finalmente, a 1 de Março de 2000, acabou por se suicidar com dois tiros ao som de Stabat Mater de Verdi, álbum cujo cd estava riscado. No seu testamento fez questão de oferecer todas as suas meias “aos pretinhos da Guiné”, escreveu. Célia recorda este como um dos momentos mais felizes de Ernesto, “foi há cerca de dois meses, ele andava visivelmente entusiasmado com a história da Guiné e queria dar tudo àqueles pretos golpistas!!”. Ernesto nunca chegou a conhecer a sua filha, Rita Bastos Tinoco, nascida a 1 de Abril de 2000.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

José Macau

José Macau nasceu no Porto e morreu em Lisboa. Na sua certidão de nascimento encontra-se indicado que nasceu na Rua Cidade de Lisboa, considerada por lapso na freguesia de Santo Ildefonso, quando, na realidade, apoiado na toponímia e nos cálculos comparados das distâncias da anteriormente referida rua com o rio Douro, esta se situa na freguesia de Paranhos. Correcta está a informação relativa ao momento em que nasceu: às duas horas e treze minutos da manhã do dia 13 de Fevereiro de 1926. Incompleta está a certidão quando ignora deixar espaço para a data da sua morte: 2 de Novembro de 2001, dia de finados, segundo a crença católica.


Zé Macau, como era tratado pelos amigos, foi um homem pouco dado ao catolicismo apesar de variadas vezes ter pedido a alguém superior entrar no século XXI, “o século do futuro!”, como não se cansava de proclamar, de olhos, boca e braços bem abertos. Não tendo tido oportunidade de o viver muito em vida, viveu-o o suficiente em imaginação, nomeadamente através de conjecturas, previsões e demais suposições abstracto-filologo-transpirantes das vidas daqueles que todos os dias encontravam a morte. E não precisava Zé Macau conhecer a alma do perecido para sobre ele enredar.


O método de Zé Macau era simples e infalível: concentrando-se nas páginas de obituário de um jornal de grande tiragem, tecia arquejos e formas de locomoção, tirava notas sobre familiares e amigos, adiantava morada e última refeição do recém-morto. Era um fartote. Um sem número de amestradas probabilidades convertidas em certezas, apoiadas em explicações e provas irrefutáveis. E assim foi até ao dia 2 de Novembro de 2001, quando caído em febre na cama, depois de suores, delírios e espasmos, ele próprio morreu na única casa para onde comprou um candeeiro. Quem assistiu ao termo de existência de Zé Macau, assevera que a sua respiração terminou em dó menor.

Um sósia de Pessoa

Fernando Tita Ferreira nasceu em Lisboa em 1959 e veio a falecer na mesma cidade em Agosto de 1986. Morreu a meio de uma tarde amena, "na mais profunda paz". Não estava doente, não sofria as consequências de nenhuma tragédia, não tinha preocupações de maior. Quem o rodeava nesse dia diz que fechou os olhos e morreu, naturalmente, como se fosse o mais lógico de acontecer aos 27 anos.

Teve uma vida atribulada, de profissão em profissão, tinha uma obsessão pela obra de Fernando Pessoa e pela cidade de Lisboa. Tentou vestir a pele do poeta, era o que se podia chamar um sósia, mas nunca passou disso. A sua obra é curta e nunca foi revelada a ninguém. Apenas uma série de poemas amarfanhados numa pasta preta que deixou de herança aos pais. Fica um desses textos:


Memórias da Cidade Branca
por Fernando Tita Ferreira, 1982



Há algo nesta cidade que me faz senti-la
e querer,
(no mais profundo da minha alma)
desejar fugindo da matéria que há em mim,
com sede e fome e desespero ao mesmo tempo,

ser Pessoa ressuscitado.


Ressuscito
(se ainda ninguém o fez ou sabe).

Ressuscita-se assim a cidade solarenga,
subindo o sol nas colinas,
a saudade da cidade branca…

Nasci no dia em que Pessoa morreu.
Não no mesmo ano. Nem no mesmo universo.
Mas nasci,
estou aqui,
e ele já não está.


Há algo nesta cidade que me faz senti-la.
Algo que é seu,
sua a essência branca e luminosa que me pulsa nas veias…

e nos dedos de Paredes também pulsava…

Tamanha glória faz-me chorar.
Tamanho orgulho faz com que queira morrer com a face presa à calçada!
Deixando passar por cima do meu corpo outra gente da Lisboa que acabou,
mas que era ela que eu amava.

Nasci na Lisboa da altura errada.
Não sou desta data.
Sou de Lisboa.


Suicido-me sem sofrer
só para sentir a cidade da saudade de sempre,
a cidade cinzenta-alva do sol da salvação.

E enquanto não o faço sonho com Pessoa,
que tomo café com o poeta,
numa esplanada…

os olhos marejados de lágrimas e o coração fora de mim
em cima da mesa…


Esta era a minha Lisboa
e só esta era que ainda ninguém de mim roubou.