sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Eusébio Pintarolista

Morreu Eusébio Pintarolista. Homem bom, homem mau, bipolar, com uma mão atrofiada devido a um parto negligente.

Nascido nas Aranhas, Penamacor, em 1952, jogou à bola no Duas Quintas até agredir um árbitro de quinta categoria que o acusou de ter metido mão  na bola em cima da linha.

Morreu uma promessa do futebol de rua e de muito mais. Empreendedor, criou a primeira empresa de dobragens para brasileiro em Mora, Alentejo, terra dos melhores cachorros em papo-seco de Portugal e Galiza.

Eusébio trazia grande amor no peito pela dobragem. Apesar de falhar a concretização de projectos importantes como As Aventuras de Nils Holgerssons ou Donald no País da Matemágica, nunca se deixou dobrar às evidências: ele não levar o menor jeito para isso.

Na sua terra natal, Paz, perto de Mafra, conta-se que deixou todo o dinheiro para o autocarro da Escola Primária. Viajante e exímio condutor de Toyotas Hiace ao longo da tapada, levava os alunos de porta em porta, descarregando coxos com o seu colo. Empurrando os mais tímidos com uma palmada inocente nos glúteos. Beijando delicadamente as meninas no cocuruto.

Ele, que os levava sempre em cantoria, ao som da Rádio Ribamar , aproveitou para deixar estas palavras inspiradas à mulher e às pessoas da Dipol – loja de tudo e mais alguma coisa, no centro da Amadora, antes de se render à aurícula assassina: “Vieram levar-me para onde todas as coisas vão, todas as coisas vão, como dizia Sufjan Stevens na rádio que agora ouço à noite antes de meter o creme Nivea e a ceroula.”

 

Em honra de Eusébio Pintarolista, deixamos a última frase do ultimo trabalho de dobragem que fez. Um documentário habilmente traduzido como “A gente fala AIDS porque é como os inglês fala”.

“AIDS quem diga que tudo isto não é sacanagem. A vida é sacanagem”. 

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