Só voltei a mim quando a primeira terra, mais húmida, me apanhou a cara e o sabor. Acordei com o ritmo do ferro na areia a raspar e a agarrar o que podia para me atirar para cima. A tempo de perceber que algo me cobria.
E quando voltei a mim estava de uma sonolência tal que nada fiz para me levantar.
A perfeita consciência de saber que ali deveria ficar Silencioso Imóvel num receio de me apagar Mas numa ânsia Nunca antes vista de Enfim descansar.
Ora ali fiquei Ainda a tempo de perceber a luz escassa de uma lamparina Velha de enterros da idade das viúvas
Que me mostrou as pernas uma em cima da outra, os braços, curvados Cravados no peito e uma camisa amarelada de suores antigos.
As vozes lá em cima Uns motores e eu num Ora deixa-me estar mudo Que me justificava qualquer dúvida E o ali estar.
Qualquer pânico que se me aparecesse por só ver o mundo num rectângulo cada vez menor.
É apaziguante saber que não precisamos de fazer nada.
Enfim os músculos descansam e falam connosco. Finalmente nos olhamos nos olhos e acenamos.
Foi isto.
Foi isto de para lá e para cá. De pessoas maiores e menores Dias iguais.
Isto de se esperar e correr atrás. Fugir e deixar-se apanhar. Julgar-se e dar-se a julgar.
Isto de nunca parar de rodar.
(a terra cada vez mais seca esconde-se-me nos bolsos Mistura-nos e faz de mim mais mundo que alguma vez fui)
Ora foi isto de assim Por aqui passar.
Levo a mão aos cabelos que correm para a cara Acordados e asfixiando
Sinto-me ainda homem e capaz de assim me mostrar.
Levo a mão até onde o peso me deixa e descubro ao que nunca vou voltar.
Foi isto.
Mil imagens no cheiro a chão. Outras mil no pouco ar que mantém o coração.
Aquela e aqueloutros
Todos no mesmo sítio
Expostos Prontos para o acenar.
E eu
Valente
Tapado de pés Estradas e ventos.
Sorridente por ser isto e muito mais. Por não ter de ser mais nada. E por não poder ser mais nada. E muito por saber o que foi tudo.
Deixo-me aqui estar.
E assim o mundo passa por nós... inelutável nas suas ambivalências...
ResponderEliminar